30.1.15

SINAIS DE UM ATAQUE DE CORAÇÃO


coração
Sinais de um Ataque do Coração
Um “ataque do coração” pode surgir em pessoas que já sabem ter uma doença cardíaca, ou de forma súbita, sem qualquer pré- -aviso e, neste caso, em pessoas por vezes jovens.
Um ataque do coração é quase sempre resultante da existência de doença das artérias coronárias. O coração é um músculo, uma bomba que empurra o sangue e faz com que ele vá para todo o nosso corpo, alimentando todos os nossos órgãos e células. Mas o músculo cardíaco também tem de ser alimentado, e é-o através destas pequenas artérias, as artérias coronárias, que saem da aorta e levam o oxigénio até às células musculares do coração.
Existem três artérias coronárias principais (a Descendente anterior, a Circunflexa e a Coronária direita) e a obstrução súbita e total de qualquer destas, faz com que o coração entre em sofrimento agudo e provoca o ataque de coração.
O ataque de coração é o nome popular daquilo que na nomenclatura médica se chama um Síndromo Coronário Agudo, e dado a uma série de doenças súbitas resultantes da oclusão de uma das artérias importantes do coração, como a Angina de Peito Instável, o Enfarte Agudo do Miocárdio, ou as arritmias malignas. Pode ser mais ou menos grave, indo desde quadros muito ligeiros e de evolução benigna, até à morte súbita.
Geralmente o que acontece é que há uma placa de aterosclerose que se vai instalando numa ou em várias das artérias, cresce progressivamente e, depois, de repente, fica instável e “rompe”, formando-se um trombo que entope a artéria coronária de forma súbita e total, dando origem ao enfarte agudo do miocárdio.
Quando uma pessoa tem um enfarte agudo do miocárdio tem de ser imediatamente assistida e tratada. Existem hoje em dia uma série de tratamentos que, se forem realizados em tempo útil, permitem desobstruir a artéria ocluída e fazer com que o coração volte a ser irrigado totalmente, sem ficar com sequelas. Estes tratamentos podem ser medicamentos que destroem o trombo, que são administrados de forma endovenosa, e que são os fibrinolíticos, anticoagulantes e antiagregantes plaquetários. Para serem eficazes, devem ser administrados o mais precocemente possível, e os fibrinolíticos só são realmente eficazes se administrados nas primeiras seis horas após o enfarte. Só quando administrados precocemente conseguem destruir totalmente o trombo e recuperar totalmente o funcionamento do coração. Após este tempo, já o músculo cardíaco entrou em sofrimento irreversível, muitas das células já estão mortas, e ficarão sempre sequelas, uma parte do coração sem funcionar.
missing image fileHoje em dia, temos um tratamento ainda mais eficaz e que consiste em fazer uma Coronariografia precoce. A coronariografia é um exame em que se leva um catéter até ao coração através de uma artéria periférica (geralmente a artéria femoral) e que permite visualizar o local exacto de obstrução através dum equipamento de RX. Durante a Coronariografia, que é terapêutica, destrói-se o trombo e dilata-se a artéria obstruída – é a chamada Angioplastia Directa. Este tratamento, altamente eficaz, só é feito em alguns hospitais que tenham sala de Hemodinâmica, mas só pode ser realizado se o doente chegar muito precocemente à sala, até três horas de evolução do enfarte.
O INEM, quando tem um caso destes, liga para o hospital mais próximo que tenha capacidade para fazer este tratamento, de forma a que a equipa esteja a postos quando o doente chegar e o tratamento possa ser feito em tempo útil.
Se o doente chegar depois deste tempo, opta-se pelo tratamento médico (administração dos fármacos atrás referidos) e só em segundo tempo pela coronariografia, se for caso disso, porque nem todos os doentes precisarão, neste caso, dela. 
O importante para si é saber que, quanto mais cedo for tratado, mais hipóteses tem de recuperar totalmente de um ataque do coração, pelo que, quanto mais cedo recorrer ao hospital, mais hipóteses tem de poder efectuar os tratamentos que lhe permitirão ter de novo um coração a funcionar em pleno.

Coronariografia e Angioplastia Coronária – O que são?
O Cateterismo Cardíaco com Coronariografia, é um exame invasivo em que através de um fino catéter, introduzido a partir de uma artéria periférica da perna ou do braço, geralmente introduzido na virilha sob anestesia local, é possível visualizar as cavidades cardíacas e as artérias do coração. Para isso, é injectado um agente de contraste radiológico que permite opacificar as estruturas estudadas. É praticamente indolor, não doendo mais que uma picada para tirar sangue. O doente está acordado durante o procedimento.
No Cateterismo são avaliadas as cavidades cardíacas, a sua função, e é feito um cálculo de pressões, débitos cardíacos, etc.. Na Coronariografia, são avaliadas as artérias coronárias, para o que é injectado contraste dentro das artérias do coração. Geralmente, os dois procedimentos são feitos durante o mesmo exame.
Muitos avanços têm sido realizados nesta área, e neste momento o Cateterismo com Coronariografia é um exame frequente pedido a doentes que sofrem de angina de peito crónica ou que tiveram um enfarte agudo do miocárdio, quer para diagnóstico preciso da situação (quando existem dúvidas nos outros exames), quer para tratamento.
É um exame invasivo e por isso não de rotina, com indicações precisas, com riscos e benefícios, mas actualmente já muito seguro. É um exame que é requisitado apenas pelo Cardiologista.
missing image fileQuando o doente é submetido a um Cateterismo, deve ir em jejum de quatro horas, com a medicação habitual tomada com um pouco de água e uma bolacha. Se tomar anticoagulantes (Varfine, Sintron) ou antidiabéticos, pergunte ao seu médico como proceder.
Se realizar apenas Cateterismo/Coronariografia diagnóstico, poderá ter alta cerca de seis horas após o procedimento, se não houver complicações e se o médico assim o entender. 
Quando a Coronariografia revela que existem obstruções graves das artérias coronárias, o Cardiologista que está a realizar o exame pode tentar desobstruí-las no mesmo procedimento ou programar para uma data posterior, consoante o estado clínico do doente e o motivo do exame. Este tratamento é designado por Angioplastia (ou PTCA) e é uma espécie de cirurgia de revascularização sem necessidade de uma incisão através do tórax.
Neste caso, retira-se o catéter de diagnóstico e coloca-se um outro catéter que tem um balão na ponta. O catéter atravessa a zona de obstrução e o balão é colocado no local de obstrução. O balão é então insuflado, o que destrói a placa, e a artéria volta a estar permeável. Com o tempo, esta artéria tem tendência a voltar a obstruir e, para que tal não ocorra (ou a sua probabilidade seja diminuta), é colocado no local da desobstrução uma rede de sustentação, o chamado stent, do qual existem hoje em dia diversos modelos. Neste caso, o doente terá de tomar, durante pelo menos um ano, diversos medicamentos antiagregantes plaquetários, assim como manter níveis adequados de tensão arterial, colesterol, glicemia, para a intervenção ser um sucesso.
O doente deve saber que, se realizar este tipo de tratamento, a Angioplastia, ficará internado pelo menos um dia, tendo alta no dia seguinte.
Pode considerar-se que se trata de um tratamento seguro, quando realizado por Cardiologista experiente. As complicações da Angioplastia Coronária são semelhantes às do Cateterismo em geral e as mais frequentes são pequenas: hemorragia no local de punção da artéria periférica, infecção, alergia ao produto de contraste. Os doentes que têm já insuficiência cardíaca ou insuficiência renal, têm uma probabilidade maior de complicações mais graves e podem mesmo não poder realizar o exame. As complicações mais graves são muito raras e são AVC, insuficiência renal aguda ou lesão dos vasos sanguíneos. A lesão das artérias coronárias pelos catéteres (dissecção ou rotura) pode levar a uma cirurgia cardíaca emergente. 
missing image fileApós a alta de uma Angioplastia, o doente não deve conduzir o automóvel idealmente durante 24 horas, para minimizar os riscos de hemorragia. Se o seu trabalho for sobretudo físico, convém ficar de baixa médica durante uma semana. Se tiver um trabalho mais intelectual e se for mesmo necessário, pode trabalhar no dia seguinte, desde que não faça grandes esforços.
Hoje em dia, temos uma alternativa à Coronariografia para diagnóstico de doença coronária. Trata--se da Tomografia Computorizada Cardíaca (Angio- -TAC das coronárias) que permite uma visualização detalhada do coração e suas artérias, de uma forma não-invasiva. O contraste neste caso é administrado apenas por uma veia periférica do braço e não existem catéteres que vão até ao coração. O coração e as artérias coronárias são avaliados através dum equipamento de TAC de alta resolução. Existem dois tipos de TC cardíaca:
1. Score de cálcio coronário 
Neste caso, a TC cardíaca é utilizada para medir a quantidade de calcificações presente nas paredes das artérias coronárias (artérias que alimentam o coração). A calcificação das artérias coronárias está intimamente associada ao desenvolvimento da aterosclerose e é por isso um indicador da presença de doença coronária. Quanto maior o score de cálcio, maior o risco de se vir a ter problemas coronários (enfarte, angina de peito, etc.). A avaliação do risco é importante porque permite definir qual a melhor estratégia de prevenção para cada doente. 
2. Angio-TC coronária
Este exame faz uso de recentes avanços tecnológicos que nos permitem fazer imagens muito detalhadas das artérias coronárias e estruturas cardíacas. Consegue detectar-se a presença de placas de aterosclerose e avaliar se estas causam obstrução ao fluxo sanguíneo. Este exame não é tão sensível nem tão específico como a Coronariografia; só permite o diagnóstico da situação e utiliza-se geralmente em doentes sintomáticos, para excluir doença coronária, permitindo muitas vezes evitar a realização de um cateterismo. A angio-TC coronária é frequentemente precedida de um score de cálcio (efectuados na mesma sessão). Se a Angio-TAC mostrar presença de doença grave o doente terá de fazer um Cateterismo para realizar Angioplastia ou ser encaminhado para cirurgia. Este equipamento já existe em alguns hospitais públicos e privados de Portugal.

Madalena Carvalho
Cardiologista

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